sábado, 2 de abril de 2011

O ASSASSINATO DO COMANDANTE DO VAPOR BLUMENAU

 
 
 
 
COMO TUDO ACONTECEU
Hoje vamos reproduzir um relato feito pelo Sr. Frederico Guilherme Busch Jr., ex-prefeito de Blumenau, publicado na revista "Blumenau em Cadernos" na edição nº 9, Tomo IX, de setembro de 1968. Busch também era proprietário do cinema do mesmo nome, que fôra fundado pelo seu pai em 1904.
 

Busch escreveu o seguinte:
"Antigamente, quando o comércio de Blumenau necessitava de mercadorias com uma certa urgência, tinha que adquirir as mesmas em Itajaí, nas firmas Asseburg ou Malburg.
E o intermediário nas compras era sempre o comandante do vapor Blumenau", Krubeck. Quando um negociante qualquer necessitava de dois sacos de açúcar, de um saco de farinha, de uma outra mercadoria, era só falar com o comandante Krubeck e já no dia seguinte a encomenda vinha pelo "Blumenau".
E não eram só mercadorias. Também recados, bilhetes, cartas, embrulhos.
Tudo, o infatigável capitão transportava com o maior prazer, sempre atencioso, sempre alegre. Era um homem bom, prestativo. Não era pois de estranhar que todo mundo gostasse do comandante Krubeck. Todos o estimavam, recebiam-no prazerosamente em suas casas, cumulavam-no de obséquios.
Mas, como todo quê tem seu "mas", o comandante Krubeck gostava de uma pinga. E quando esta lhe subia à cachola ele virava valentão. E então tornava-se insuportável.
 


Certa noite estava ele no bar do Hotel Holetz (foto) bebericando em companhia do Oficial de Justiça Panoch.
Em uma mesa próxima estava sentado, tomando sua cerveja, um polaco de nome Miguel Nita, deixando ver à cintura uma pistola.
Lá pelas tantas, Panoch, que vinha observando o homem armado, disse ao Comandante Krubeck, que já andava com a pressão bem alta:
- Você sempre diz que é muito homem. Pois quero ver você tirar a arma daquele polaco e mostrar-lhe como se cumpre a lei que proíbe andar armado.
O comandante não contou tempo. Aproximou-se de Nita e o intimou a entregar-lhe a arma.

O polaco, sem perder a calma, fez ver que o comandante não era da polícia e, consequentemente, não tinha autoridade alguma para tirar-lhe a pistola. E pagando a sua conta foi saindo porta afora, para não criar maiores complicações.
O capitão Krubeck, decepcionado, não se deu por vencido.
Saiu atrás de Nita e falando-lhe e ameaçando-o, acompanhou-o até a altura da atual Casa Coelho (*), onde então morava a família Kiesel.
Ali, continuando Nita a negar-se em entregar-lhe a arma, o comandante agarrou-o por trás, procurando desarmá-lo à força.
Foi quando Nita, puxando da arma, desfechou vários tiros contra Krubeck, que caiu mortalmente ferido, morrendo logo depois. Enquanto o atingido era socorrido pelas pessoas vizinhas, Nita pôs-se em fuga."
Na sua narrativa, Busch continua:
"Toda esta cena foi assistida pelo meu pai que, vindo do cinema, acompanhava a uma distância de uns cinco metros os dois que brigavam.
Foi, assim, a única testemunha de vista.
Ao tomar conhecimento do ocorrido, a cidade inteira alvoroçou-se. A grande estima que Krubeck desfrutava era razão suficiente para que não se indagasse quem era o culpado. E mal surgira a manhã seguinte, organizaram-se grupos de populares para perseguir e prender o criminoso, enquanto o comandante assassinado era velado na Casa Kersanach, onde hoje são a Casa Flamingo e Casa Lorgus (**), até que seu corpo foi transportado para Itajaí, onde foi dado á sepultura.
 

Miguel Nita, acossado pelos grupos, foi preso. Submetido por duas vezes a julgamento, acabou fugindo da prisão.
Na manhã seguinte ao crime, meu pai procurou o Promotor Público, Sr. Manoel Barreto, a quem contou todo o fato, tal como havia acontecido realmente, mas pediu-lhe que não o arrolasse na denúncia para que não tivesse que enfrentar a opinião pública, franca e parcialmente favorável ao morto."

REPERCUSSÃO NA IMPRENSA
No seu número de 9 de abril de 1910 o jornal "Blumenauer Zeitung" publicava a seguinte notícia na Seção Local:
"O assassino do capitão Krubeck, Miguel Nita, que fôra julgado duas vezes pelo Tribunal do Júri local, e condenado, da primeira, a 17 anos, e da segunda a 13 anos de prisão, e que havia apelado da segunda sentença, fugiu da cadeia na noite de sexta-feira para sábado da semana passada. O criminoso serrara um dos varões de ferro da janela, bem rente à parede, fugindo pela abertura. Parece que Nita tramou o escape com a família, a qual se retirara desta cidade dois dias antes da fuga, tendo antes visitado o prisioneiro. Em Itajaí, a família do assassino comprou passagem no "Mayrink", com destino ao Rio. Também Nita não estava sem dinheiro, pois há pouco tempo chegara-lhe uma forte soma de dinheiro. Sua mulher não quis recebê-la, alegando não conhecer o dinheiro brasileiro. Por isso aquela soma foi entregue a Nita, diante de sua esposa. Do fugitivo não se tem até agora a menor pista e nem se sabe que direção ele tomou ou se ainda anda escondido por aqui. A polícia logo tomou as providências necessárias e estabeleceu uma gratificação de 100$000 a quem o capturasse, ou informasse o seu paradeiro."
E assim ficou sem solução mais este caso policial, na Blumenau de 100 anos atrás.
Observações:
(*) Casa Coelho, e (**) Casa Flamingo e Lorgus, eram casas comerciais existentes na época em que Frederico Busch Jr. escreveu a narrativa, não a época do crime (1910).
 

2 comentários:

  1. Fico muito feliz que tenham aproveitado nossa postagem sobre o Vapor Blumenau. Devemos sim divulgar e batalhar pra que nossos politicos paraquedistas e aventureiros não acabem com este nosso marco de nossa história,.
    Abraços
    Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau.

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  2. sou filho do sr. alfredo da luz e resido na rua bahia 1233 - ap. 03 proximo a entrada do cemiterio. Trabalho atualmente no samae como segurança patrimonial . Meu pai bem que merecia uma homenagem por ter trabalhado 25 anos no vapor blumenau e feito parte da historia. Masnunca foi lembrado...

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