Blumenau - Justamente quando completa cem anos da sua construção, um dos mais importantes remanescentes da memória cultural da cidade está sendo vitima do total descaso. Pelo menos por enquanto, é incerto o destino do velho Vapor Blumenau I, embarcaçao que por muitas décadas, no século passado, garantiu a ligação entre a colônia e o Porto de Itajaí. Hoje, aquele que foi o principal meio de transporte dos tempos da imigração jaz deteriorado na Prainha, junto ao Restaurante Moinho do Vale. "Está entregue à Deus, num estado deplorável", lamentou a diretora da Fundação do Meio Ambiente do Municipio, Ana Holzer.
O Casco apresenta rombos, madeirame interno apodreceu ou foi destruído por vândalos, as ferragens em grande parte foram arrancadas, dando-lhe aspecto deplorável. Quem frequenta a Prainha sabe que, não raramente, os porões que antes transportavam mantimentos e utensílios entre as duas cidades agora são abrigos de desocupados e drogados.
O Vapor está repleto de buracos, o maior deles foi tapado grosseiramente com uma chapa de metal. No interior há lixo e pedaços de cadeira do restaurante vizinho e de telhas. A água da chuva se acumula por tudo e a escada que dava acesso ao convés desapareceu.
MARGINALISMO
A última restauração aconteceu em 1985, quando a embarcação estava praticamente condenada após sucumbir às duas grandes enchentes de 1983 e 1984. Foi entregue remodelada à comunidade em 2 de sentembro daquele ano pelo então Prefeito Dalto dos Reis. desde então o Vapor Blumenau I não recebeu mais cuidados e vem sofrendo os efeitos da ação do tempo e de depredadores. Consta que o local já foi usado até para o tráfico de drogas e encontros sexuais e ações ilicitas de marginais.
Ana Holzer que entre 1991 e 1992 foi diretora de cultura, lembra que na época foram promovidos seis shows com bandas da região, os chamados de Blumenália, na concha acústica com patrocínio da Coca Cola(Empresa catarinense de Refrigerantes), que havia se encarregado da reforma da embarcação. A única exigência que a Empresa fazia era de se manter ali um trailer da Polícia Militar para garantir a ordem e a segurança.
O policiamento foi mantido no local por cerca de 30 dias, mas por falta de contingentefoi logo retirado. Depois disto, um vigia foi pago pelo Restaurante Moinho do Vale assumiu a tarefa. Mas ele acabou violentamente agredido pelos marginais que se refugiavam à noite no barco. O caso foi parar na polícia e os proprietários desistiram da responsabilidade pela zeladoria da embarcação.
Ela lamenta que a área da Prainha esteja praticamente abandonada e que atualmente ninguem possa desfrutar da beleza do local junto ao Rio Itajaí. A concha acústica, numa das extremidades do ajardinamento também está toda semi-destruída: paredes pichadas, lâmpadas estão quebradas. O Chafariz no centro há muito não é ligado.
PATROCÍNIO
No momento há um projeto na Fundação do Meio Ambiente que visa a preservação e a recuperação de praças - a Prainha é uma das prioridades - mas o orgão tem encontrado dificuldades para achar um patrocinador que queira arcar com os custos de manutenção da embarcação. Já o vice-prefeito Vilson Souza, que tem planos de transformar aquela área num complexo turístico e de lazer dotado inclusive de uma mini-cervejaria, revela suas idéias para restauração e uso do Blumenau I: "queremos transformá-lo em galeria fotográfica permanente, na qual ficariam em exposição antigas fotos retratando a formação da cidade". Ele também pensa na possibilidade de criar uma mini-sala de projeções para apresentações de videos, filmes e documentários sobre a colonização alemã. Para ele, uma nova restauração do barco, pelo menos externamente, deve respeitar e recompor as suas caracteristicas originais, o que não aconteceu na reforma anterior quando o vapor acabou um tanto desfigurado.
Ainda não há uma previsão para que esta empreitada comece e nem qual será o total das verbas necessários. Ele diz ainda que a prefeitura precisa agilizar esse processo e que no momento está a procura de patrocinadores para que seja possível a concepção deste projeto. Segundo ele, a prefeitura está mantendo contato com a Cervejaria Brahma, que manifestou certo interesse em participar desta iniciativa.
- Matéria publicada no Jornal de Santa Catarina, em 29/30 de maio de 1994.
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